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87 anos da morte de Lampião e Maria Bonita


No dia 28 de julho de 1938, na localidade Angico, município de Porto Redondo, Sergipe, tombavam, sem chance de defesa, Lampião, Maria de Déa (Maria Bonita) e mais nove cangaceiros. Foram emboscados por soldados da volante alagoana comandada por João Bezerra, um antigo colaborador do grupo que mudara de lado. No livro O sonho de Lampião (Principis, 2022), no capítulo "Não se faz parelha com a traição, Marco Haurélio compôs este poema sem título, que serve de epígrafe à última parte do romance histórico:

A vida é sonho tão breve
que passa e, às vezes, não vemos.
Se vivemos ou sonhamos,
sabemos, mas não sabemos.
E, se a morte é um despertar,
Ainda mortos, vivemos.
 
Quem é que diz o que é certo
quando o erro vem de cima?
Quem diz que lima é limeira?
Quem diz que limeira é lima?
Quem diz que meu verso é frouxo,
pegue o sentido da rima.
 
Meu senhor, minha senhora,
o meu pensamento enfeixa
uma verdade, porém
não tome isso como queixa:
quem mata o corpo não mata
os sonhos que a gente deixa.


Escrito por Marco Haurélio e Penélope Martins, O sonho de Lampião é um mergulho intimista no cotidiano de Lampião, Maria de Déa, Dadá, Corisco e outros personagens da saga do Cangaço, movimento tão complexo que não pode ser analisado à superfície das coisas. 
Quando pensei nas gravuras que adornariam a história, pensei em retratar cenas cotidianas, momentos de tensão, como o da chegada de Lampião e seu bando à casa de Zé de Filipe, pai de Maria, e outros mais poéticos, como o das mulheres do Cangaço lavando roupas no riacho à espera do parto da rainha do cangaço.
Trabalhar neste livro foi um mergulho nas memórias de infância, no interior da Bahia, onde, até hoje, se contam histórias de Lampião, algumas verdadeiras, outras fantasiosas. Pude enviar uma das imagens para Dona Expedita, filha de Lampião e Maria de Déa, justamente aquela que mostra um dos raros momentos em que Maria pôde exercer o seu direito de ser mãe.
Maria de Déa e a pequena Expedita.
E você, já leu O sonho de Lampião



Comentários

  1. Que essa obra seja bem vinda e fortaleça mais ainda a literatura do cansaço.

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